
A urbanização em suas margens: Estado, dinheiro e crime no (re)sentimento da fronteira
Cesar Simoni Santos
Formato: 16x23cm, 414 páginas
ISBN 978-65-85936-69-9
Há, ao longo dos capítulos, um fio condutor que entrelaça conceitos, dimensões empíricas oriundas de diferentes momentos de inserção no trabalho de campo, possibilidades explicativas. Trata-se da noção de fronteira que emerge, em um diálogo interdisciplinar, com a ideia plural de margem. A elaboração sobre fronteiras e margens atravessa aqui
escalas e disciplinas desdobrando processos em trânsito que nelas – e nas múltiplas relações que lhes são inerentes – encontram sentidos. São assim múltiplas margens e múltiplas fronteiras. Os resultados desse procedimento intelectual trazem a marca de uma leitura avessa às apreensões imediatas e rápidas dos achados empíricos que vão ganhando nexos e desdobramentos nada óbvios. Trata-se de uma geografia das margens que se faz nas relações entre fronteiras, processos de expansão, presença/ausência e ação do Estado, presença e ação do dinheiro e do capital, presença e ação do crime. As fronteiras em seus desdobramentos e articulações conformam fisionomias, ali mesmo onde o urbano avança e ocupa áreas ainda intocadas. Essas fronteiras não são linhas de divisão mas faixas de contato entre territórios e dinâmicas socioespaciais. Conformam indistinções, indefinições, contaminações e transformações já que aglutinam processos vinculados às formas originárias ou primitivas de acumulação. As fronteiras ou a fronteira como fio condutor, na multiplicidade de seus processos espaciais, permitem assim apreender e compreender territórios, tempos, vidas.
É a partir desse fio condutor que César Simoni Santos desenha as relações e mediações entre os processos de constituição, ação e intervenção do Estado sobre um social e sobre uma produção socioespacial em expansão permanente. Nesse novelo de relações nada é fixo, nada permanece como está. As fronteiras se constituem, assim, em nexos entre mundos em mutação no escopo de uma “acumulação primitiva do espaço”, num esforço teórico e empírico que busca identificar e elucidar as relações no âmbito conceitual acolhendo no bojo da análise e de suas instâncias. Nas palavras de Simoni Santos, é preciso reconhecer como instrumental teórico uma dimensão política que se efetiva “nos confins da positividade normativa do direito e nos limites de operação da lei do valor,
encarnados, ambos, na fronteira da urbanização como sua dimensão formal necessária, ainda que não única”.
Do prefácio de Cibele Saliba Rizek